A correria deu lugar à qualidade de vida. Se antes não havia possibilidade de escolhas e a máxima do ‘todo artista tem de ir onde o povo está’ era seguida à exaustão, atualmente a banda Calypso já se permite respirar mais. Olhar o tempo com mais calma. É o que deixa transparecer a cantora Joelma, que, ao lado do marido Chimbinha, lidera a banda independente brasileira mais bem-sucedida na última década.
“A gente agora só faz shows de quinta a domingo. Os outros dias são para a casa, a família, para nós mesmos”, diz Joelma, por celular, numa tarde de meio de semana, recém-chegada de um show em Campinas. Isso depois de Chimbinha ter dito pelo menos umas duas vezes que ela estava em casa, mas não sabia em que parte exatamente.
Não há tom de cansaço na voz de Joelma Mendes. A palavra adequada seria tranquilidade. Dias antes, o Calypso havia capitaneado o programa ‘Esquenta’, de Regina Casé, num especial paraense. Junto a outros artistas, Joelma e Chimbinha cantaram o Pará. Nas redes sociais, as opiniões foram divididas e ardorosamente defendidas. Contra e a favor.
Isso não chega a ser uma novidade para Joelma. O grupo sempre teve de nadar contra a corrente, enfrentar resistências e preconceitos e seguir adiante. O resultado, treze anos depois, é mais do que satisfatório.
“A gente mostra, sim, a cultura do Pará. Cantamos as coisas que são da terra. Mas acho que falta ainda um olhar mais carinhoso por parte dos governos. Fazer como foi feito com a música baiana, como é feito em Pernambuco e em Manaus. Precisamos de eventos que façam parte do calendário local”, diz Joelma, com uma atualmente insuspeita autoridade de quem já vendeu mais de 13 milhões de cópias de CDs e DVDs, de forma praticamente independente e num mercado fonográfico que muitos apregoam estar agonizante.
A banda surgiu em 1999 com uma mistura de ritmos meio caribenhos tão conhecidos no Pará, como o calipso, a cumbia e o zouk, e adaptou tudo a um tempero que poderia ser classificado como brega pop. O trabalho de ‘formiguinha’ no início ficou restrito ao Norte e Nordeste. Depois foi se alastrando pelo resto do país. Parecia muito? Não foi. Estados Unidos, Europa e África também já remexeram os quadris ao som da banda.
As sementes que iriam germinar no Calypso tiveram início em um jantar na casa do cantor Kim Marques, que à época era companheiro de Joelma na banda ‘Fazendo Arte’. Foi lá que ela conheceu Chimbinha, guitarrista solicitado por dez entre dez cantores que queriam fazer a sonoridade do brega. Chimbinha seria produtor do disco solo de Joelma. Não só. Depois de um tempo, o flerte profissional se tornou flerte amoroso. Uma parceria fadada ao sucesso.
Joelma estava de saída do grupo Fazendo Arte e partindo para uma ainda indefinida carreira solo. Ela e Chimbinha começaram a perceber que a carreira solo de Joelma acabaria por afastá-los. A fome e a vontade de comer deram origem então à Banda Calypso.
O que seria então o primeiro disco solo de Joelma Mendes transformou-se no primeiro álbum da banda, intitulado Volume 1, gravado em 1999. Ideia de Chimbinha. Não foi um começo fácil, pois nenhuma produtora aceitou o convite de produzir o CD da nova banda. Mas conseguiram uma parceria e lançaram o disco com uma tiragem de mil cópias. A surpresa é que essa tiragem se esgotou em apenas uma semana.
Novas tiragens. Mais shows. Divulgação limitada apenas a Norte e Nordeste. Mesmo assim, 750 mil cópias foram vendidas. O disco é hoje uma relíquia para fãs. Atingiu depois mais de 1,2 milhão de cópias e catapultou o Calypso no cenário nacional. O resto é história.
E por entender que faz parte, sim, da história recente da música paraense, Joelma fez questão de participar do projeto Divas do Pará, que reúne alguns dos nomes que se destacam na música do estado. Fã de Marisa Monte - de quem a banda acabou de gravar uma música, ideia do pesquisador musical Hermano Vianna - Mariah Carey e Céline Dion, Joelma tem em Jane Duboc a maior referência quando se fala em cantoras paraenses. “Ela é maravilhosa. Tem um timbre de voz lindo. Deveria estar no projeto”, sugere.
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