quinta-feira, 22 de outubro de 2015

A divisão do império milionário da música brega

Joelma e Chimbinha, da Banda Calypso - Divulgação


Separação de Joelma e Chimbinha inicia batalha pela marca da Banda Calypso

O fim de um casamento de 18 anos, uma história de traição, filhos impedidos de ver o pai por medida judicial... Em meio às mágoas que se revelam em provocações nas redes sociais ou declarações à imprensa, está em jogo na separação de Joelma e Chimbinha, da Banda Calypso, um enorme império brega, expresso em números que incluem mais de 15 milhões de discos vendidos, três indicações ao Grammy Latino, 60 funcionários e cerca de 140 shows por ano.

Nenhum dos dois parece disposto a deixar de lado o que representa a banda. A cantora, que segue em carreira solo com o nome Joelma Calypso, já disse em nota que seu novo caminho “não implica em abrir mão da empresa Banda Calypso” — ela afirma que seu objetivo “é deixar a banda como herança para os nossos filhos”.
Chimbinha e Joelma, da banda Calypso - Arte de Andre Mello sobre foto de Gustavo Azeredo

Foi uma resposta ao fato de o guitarrista ter informado, em entrevista ao “Fantástico”, há uma semana, que seguiria com o grupo, agora com nova vocalista. A nota de Joelma (que não quer dar entrevistas sobre o caso) rebate o ex-marido: “nenhuma definição e divulgação do futuro da banda podem ser feitas antes de qualquer decisão judicial”.

— Quem saiu da banda? Em agosto, Joelma anunciou a separação e disse que ia sair da banda, sem conversar com Chimbinha antes — lembra Mauro Neto, gerenciador de crises contratado pelo guitarrista. — Até o dia 31 de dezembro, a vocalista da Banda Calypso é Joelma, porque devemos respeitar os contratos já firmados. A partir de 1º de janeiro de 2016, a banda terá uma nova vocalista. É Joelma quem está deixando a Calypso. Os termos da divisão da banda serão discutidos entre eles, mas a Calypso continua.

A referência à divisão da banda diz respeito a um documento divulgado por Joelma que diz que 60% do nome “Banda Calypso” pertencem a ela, e 40% a Chimbinha. A assessoria do guitarrista contesta, afirmando que um documento posterior estabeleceu as frações em 50% para cada um.

Chimbinha era um produtor popular de sucesso em Belém quando conheceu Joelma, que queria alguém para comandar seu primeiro disco solo. Eles iniciaram um relacionamento amoroso e criaram a Calypso, que já no álbum de estreia, totalmente independente, chegou às 500 mil cópias.


‘A Calypso aproveitou bem mecanismos de mercado que já existiam no Pará, juntando a experiência do Ceará, que já exportava suas bandas de forró para outras regiões’
- CARLOS EDUARDO MIRANDAProdutor

O crescimento exponencial da banda inverteu a lógica de estourar só depois de passar pela indústria — quando foram anunciados como fenômeno e novidade no “Domingão do Faustão”, em 2005, eles já tinham ultrapassado a marca dos milhões de vendas de seus CDs e DVDs. Revelaram assim um mercado gigante que se viabilizava — via internet, redes de camelôs, barateamento do equipamento digital — pelas franjas do mainstream.

Mais tarde, conseguiram entrada no universo mais pop, tocando com artistas como Dado Villa-Lobos e Paralamas do Sucesso e ganhando prêmios como o Video Music Brasil (Chimbinha foi escolhido em 2008 o guitarrista da Banda dos Sonhos, com João Barone, Bi Ribeiro e Marcelo D2).

— A Calypso aproveitou bem mecanismos de mercado que já existiam no Pará, juntando a experiência do Ceará, que já exportava suas bandas de forró para outras regiões — avalia Carlos Eduardo Miranda, produtor que dirigiu o encontro da banda com os Paralamas e que, há anos, tem acompanhado de perto a cena paraense. — Esteticamente, a banda trouxe uma renovação para a música brasileira com as referências do Caribe e a influência de anos 1980 de Joelma, muito inspirada por artistas como Cindy Lauper.

MUDANÇAS NO MERCADO

Coautora de “Tecnobrega: o Pará reinventando o negócio da música”, Oona Castro destaca a importância da banda na criação de público e mercado para artistas que vieram depois, como Gaby Amarantos e Gang do Eletro. Mas não crê que a separação impacte no gênero.

— Esse mercado mudou desde a última década. Muitos foram para gravadoras mais tradicionais. O papel que a Calypso teve para botar esse gênero na cena nacional, isso ficou. Mas não creio que a separação cause impacto hoje. O tecnobrega já vem mudando seu modelo de negócios, é um processo que não é só da Banda Calypso, numa crescente profissionalização. A própria disputa deles é totalmente dentro dos padrões do mercado tradicional, sobre marca e direitos autorais.

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Show de gravação da Banda Calypso em Ceilândia, Distrito Federal Foto: Caio Paifer / Divulgação

R$ 150 milde CachêSegundo produtores do Nordeste esse é o valor médio para se contratar.

Mais de 15 milhões de discos


Foto: Divulgação
Soma inclui as vendas de 23 CDs e 8 DVDs lançados em 15 anos de carreira.

140 shows por ano
Foto: Camilla Maia / Divulgação
Banda segue ativa sobretudo nas regiões Norte e Nordeste

10 milhões de seguidores
São os números do canal oficial do YouTube. Vídeos postados no site por fãs da banda chegam a 3 milhões de visualizações.

3 milhões no Facebook
Foto: Caio Paifer / Divulgação
Rede social continua sendo atualizada mesmo durante a disputa.

60 funcionários

Quantidade de contratados pela 'empresa Banda Calypso', na qual Chimbinha e Joelma são sócios.

Fonte: O Globo

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